quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O SONO DO RIO E A MÃE D’ÁGUA – LENDAS DO VELHO CHICO (II)


Os mais antigos contadores de histórias garantem que o Velho Chico dorme à meia noite.

É um momento mágico e também perigoso para quem não respeitar o sono do rio e o acordar.

Depois de passar o dia inteiro servindo e atendendo às necessidades dos animais, dos ribeirinhos e pescadores, exatamente à meia noite ele pega no sono.

Nessa hora sagrada as águas do São Francisco param de correr. Até as cachoeiras deixam de cair.

Essa calmaria dura de dois a três minutos.

É nesse curto intervalo que as almas dos afogados deixam o fundo lamacento e seguem em direção das estrelas.

Nessa hora os peixes se aquietam e deitam no fundo do rio. E dizem que as cobras perdem o veneno.

A Yara ou Mãe D’Água também aproveita e sobe à superfície a procura de uma canoa ou pedra onde possa se sentar e pentear seus longos cabelos.

Os barqueiros mais experientes ensinam aos mais jovens que nessa hora todo o cuidado é preciso para não perturbar o sono do Velho Chico.

Se alguém sente sede, antes de pegar água no rio joga um pedacinho de madeira e observa.

Se ficar parado é porque o rio está dormindo e aí tem de esperar.

Afinal quem acorda o rio pode ser castigado pela Mãe D’água, pelo Caboclo D’água, pelos peixes, pelas cobras e até mesmo ser assombrado pelas almas dos afogados impedidas de alcançar as estrelas.

Quando o rio São Francisco dorme, à meia noite, suas águas param de correr e muita coisa sobrenatural acontece
A Mãe D’água é uma personagem dos rios da Amazônia e também do São Francisco e sua história nos foi revelada pelos índios.

Eles a chamam de Iuara que significa “aquela que mora nas águas” e com o passar do tempo passou também a ser conhecida como Iara ou Yara.
Os irmãos de Iuara sentiam muita inveja dela pela sua beleza e suas habilidades como guerreira.
Um dia resolvem matá-la, mas não eram páreo para a irmã que, muito mais ágil e habilidosa acaba matando os irmãos na luta que aconteceu.
Com medo de ser castigada pelo pai, o pajé da tribo, decide fugir mas perseguida foi alcançada e lançada ao rio como castigo pela morte dos irmãos.

Mas quando os peixes viram a jovem guerreira tão bela prestes a se afogar resolvem salvá-la, transformando-a em uma sereia.
Com linda cabeleira preta e olhos castanhos, metade do corpo mulher, metade peixe, Iuara se vinga dos homens atraindo-os com uma canção irresistível.
Todos os que a escutam cantar ficam hipnotizados e seguem a sua voz irresistível até as profundezas do rio onde se afogam.
Às vezes, dizem os moradores ribeirinhos mais vividos, até acontece de um ou outro homem escapar dos encantos da Mãe D’água, mas ficam loucos, completamente abestalhados.
Dizem que somente um pajé muito poderoso seria capaz de curar essas pobres vítimas.
E então, compensa perturbar o sono do rio São Francisco e correr todos os riscos?

Gostou? Acompanhe a série sobre o Folclore do Rio São Francisco, patrocinada pelo Hotel Viva Maria.

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