Não sei se o
rio Amazonas tem um tratamento carinhoso por parte dos que habitam às suas
margens. Mas uma coisa é certa, nós, cá de Minas Gerais, chamamos o rio que
leva o nome de Francisco, o santo protetor dos animais, de Velho Chico.
E bota
velhice nisso.
Desde muito antes dos europeus chegarem ao Brasil as populações
nativas conviviam com a imensidão do rio e tentavam explicar a sua origem.
Uma das
lendas indígenas diz que em uma grande tribo na região da Serra da
Canastra, onde situa-se a nascente do Velho Chico, morava uma índia chamada Iati.
Certo dia
ela foi separada de seu noivo amado, um guerreiro forte e valente, que precisou
partir para a guerra.
Tão
numerosos eram os guerreiros em marcha que suas pisadas criaram um sulco cada
vez mais profundo na terra que acabou engolindo a todos eles.
Desolada
Iati chorou copiosamente até o fim de sua vida. As suas lágrimas correram
para o grande sulco formando o imenso rio.
Essa lenda
mexe com os sentimentos.
E por falar
em sentimentos e emoções são deles que surgem outras lendas e histórias para
explicar os muitos mistérios ocultos pelas águas barrentas do rio São
Francisco.
Você já
ouviu falar no Caboclo D’água, por alguns conhecido como Nego D’água?
A criatura,
de cabeça enorme com um único olho bem no meio da testa, à moda dos ciclopes,
provoca medo e arrepios nos pescadores mais experientes.
Segundo garantem
os contadores de "causos" os Caboclos D’água moram no fundo do rio. Mas não é no
meio do barro não, as moradias deles são grutas de ouro puro, muito bem
escondidas nos lugares mais profundos.
E até hoje
ninguém se habilitou a procurar alguma dessas grutas para se enriquecer com
tanto ouro.
O Caboclo
D’água é só mais um dos muitos guardiões do Velho Chico.
Quando ele percebe
que algum pescador está desrespeitando o Velho Chico, praticando a pesca de forma
predatória, por exemplo, ele faz emborcar as canoas ou até mesmo pequenas
embarcações. E muita gente já se afogou por conta desses naufrágios.
Ele também
espanta os peixes e por mais que o pescador peleje não fisga nenhum. E quando é
assim não adianta insistir.
Os Caboclos
D’água tem lá também suas manias, como de resto temos todos nós. Apreciam fumo
e pinga da boa.
Por isso os mais cautelosos quando partem para viagem ou o trabalho sempre levam esses produtos em um saquinho para,
antes da pescaria, largar como oferenda sobre o rio para que afunde e lá nas
profundezas acalme o espírito.
E por
precaução muitos também mandam pintar o fundo do casco das embarcações como se fosse
um céu estrelado.
É que o
Caboclo D’Água, olhando das profundezas vê as estrelas e não se aproxima.
Tem gente que diz que é lenda, história de pescador.
Mas pelo
sim ou pelo não, melhor se precaver, não concorda?
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Maria.