terça-feira, 10 de setembro de 2019

Três destinos que valem a pena conhecer e fotografar em Minas Gerais

Esse roteiro é para aqueles que além dos prazeres de viajar por lugares bonitos e acolhedores não perdem a chance de fazer boas fotos.
Seguindo a trilha rumo ao Pico da Bandeira

Faço aniversário em julho e por ocasião dos meus 50 anos de estrada decidi passar as férias com a família em um destino inusitado.

Troquei o litoral, que adoro, por uma montanha.

Deixei de sair de Minas para ir mais ainda ao interior desse estado tão rico em belezas naturais.

E escolhi um desafio: escalar o Pico da Bandeira.

Hospedagem acolhedora em Caparaó, em um hotel confortável, passeios de jeep         (ainda tem deles lá, usados pelos guias pelo fato de terem tração nas quatro rodas o que os capacita a romper as ladeiras íngremes), muita paisagem bonita e povo acolhedor.

Em um livro de registros deixei minha assinatura na época com o número oito mil e poucos dos que já haviam escalado até o pico.

Valeu a viagem.
Voltei para casa com milhares de registros fotográficos incríveis.

Depois desta experiência tomei gosto por explorar Minas Gerais.

ITACAMBIRA

A cidade de Itacambira está em uma região que me cativou.

Sem estrutura sofisticada de hospedagem tem atrações naturais preciosas.

A igreja Matriz de Santo Antônio é uma raridade. 
Presume-se que foi construída no início do século XVIII.

Igreja de Santo Antônio e seus mistérios
O mais instigante nessa construção é que debaixo de seu piso de tábuas há centenas de ossos humanos, de pessoas enterradas ali não se sabe ao certo o porquê. 
Para uns foram vítimas de um cerco promovido por índios. 
Para outros morreram por causa de uma peste.

Por causa do solo rico em minerais muitos destes corpos ficaram naturalmente mumificados.
Tem ótimos espaços para quem gosta de acampar, rios com água puríssima da cor de coca-cola e praias de areia branca como açúcar. 
O clima é ameno a maior parte do ano, por causa da altitude. E o vento é uma constante.
Certeza de  fotografias fantásticas.


JANUÁRIA

Outro destino que vale a pena é Januária.

Esquecida pelas suas autoridades em relação ao seu potencial turístico a cidade é uma pérola incrustada no norte do estado, às margens do rio São Francisco.

Tem uma boa estrutura de hospedagens, entre pousadas e hotéis. 
Mas nada que se compare ao Hotel Viva Maria.

Além de bons apartamentos e alimentação, o Viva Maria está na parte histórica de Januária o que permite passear por ruas estreitas se deparando com edificações maravilhosas.

E é só atravessar a rua até a amurada do cais antigo para curtir a beleza majestosa do Velho Chico.

Detalhe da riqueza arquitetônica(foto Manoel Freitas)

É possível também fazer passeios indo por exemplo até o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. O hotel oferece esse tipo de serviço.


Vem gente do mundo inteiro conhecer essas formações espeleológicas que se destacam entre as mais belas de todo o mundo.

São cavernas de dimensões colossais e ricas em pinturas rupestres.

Vale do Peruaçu é destino imperdível(foto Manoel Freitas)
Januária tem praia e boa comida. 
Vale muito a pena experimentar os pratos tradicionais ribeirinhos.

Tem cachaça artesanal, produzidas até hoje em alambiques centenários.

Por falar nisso quando for a Januária procure um bom contador de casos para ouvir histórias e lendas sentado à beira do Velho Chico, ao entardecer. 
Com uma dose de pinga da boa para servir de guia, cerveja bem geladinha para molhar o bico e beliscando um peixinho frito. 
A conversa vai render. 
(reprodução de texto publicado no blog MINASNEWS)


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O SONO DO RIO E A MÃE D’ÁGUA – LENDAS DO VELHO CHICO (II)


Os mais antigos contadores de histórias garantem que o Velho Chico dorme à meia noite.

É um momento mágico e também perigoso para quem não respeitar o sono do rio e o acordar.

Depois de passar o dia inteiro servindo e atendendo às necessidades dos animais, dos ribeirinhos e pescadores, exatamente à meia noite ele pega no sono.

Nessa hora sagrada as águas do São Francisco param de correr. Até as cachoeiras deixam de cair.

Essa calmaria dura de dois a três minutos.

É nesse curto intervalo que as almas dos afogados deixam o fundo lamacento e seguem em direção das estrelas.

Nessa hora os peixes se aquietam e deitam no fundo do rio. E dizem que as cobras perdem o veneno.

A Yara ou Mãe D’Água também aproveita e sobe à superfície a procura de uma canoa ou pedra onde possa se sentar e pentear seus longos cabelos.

Os barqueiros mais experientes ensinam aos mais jovens que nessa hora todo o cuidado é preciso para não perturbar o sono do Velho Chico.

Se alguém sente sede, antes de pegar água no rio joga um pedacinho de madeira e observa.

Se ficar parado é porque o rio está dormindo e aí tem de esperar.

Afinal quem acorda o rio pode ser castigado pela Mãe D’água, pelo Caboclo D’água, pelos peixes, pelas cobras e até mesmo ser assombrado pelas almas dos afogados impedidas de alcançar as estrelas.

Quando o rio São Francisco dorme, à meia noite, suas águas param de correr e muita coisa sobrenatural acontece
A Mãe D’água é uma personagem dos rios da Amazônia e também do São Francisco e sua história nos foi revelada pelos índios.

Eles a chamam de Iuara que significa “aquela que mora nas águas” e com o passar do tempo passou também a ser conhecida como Iara ou Yara.
Os irmãos de Iuara sentiam muita inveja dela pela sua beleza e suas habilidades como guerreira.
Um dia resolvem matá-la, mas não eram páreo para a irmã que, muito mais ágil e habilidosa acaba matando os irmãos na luta que aconteceu.
Com medo de ser castigada pelo pai, o pajé da tribo, decide fugir mas perseguida foi alcançada e lançada ao rio como castigo pela morte dos irmãos.

Mas quando os peixes viram a jovem guerreira tão bela prestes a se afogar resolvem salvá-la, transformando-a em uma sereia.
Com linda cabeleira preta e olhos castanhos, metade do corpo mulher, metade peixe, Iuara se vinga dos homens atraindo-os com uma canção irresistível.
Todos os que a escutam cantar ficam hipnotizados e seguem a sua voz irresistível até as profundezas do rio onde se afogam.
Às vezes, dizem os moradores ribeirinhos mais vividos, até acontece de um ou outro homem escapar dos encantos da Mãe D’água, mas ficam loucos, completamente abestalhados.
Dizem que somente um pajé muito poderoso seria capaz de curar essas pobres vítimas.
E então, compensa perturbar o sono do rio São Francisco e correr todos os riscos?

Gostou? Acompanhe a série sobre o Folclore do Rio São Francisco, patrocinada pelo Hotel Viva Maria.

sábado, 24 de agosto de 2019

O CABOCLO D’ÁGUA – LENDAS DO VELHO CHICO (I)



Não sei se o rio Amazonas tem um tratamento carinhoso por parte dos que habitam às suas margens. Mas uma coisa é certa, nós, cá de Minas Gerais, chamamos o rio que leva o nome de Francisco, o santo protetor dos animais, de Velho Chico.
E bota velhice nisso. 

Desde muito antes dos europeus chegarem ao Brasil as populações nativas conviviam com a imensidão do rio e tentavam explicar a sua origem.
Uma das lendas indígenas diz que em uma grande tribo na região da Serra da Canastra, onde situa-se a nascente do Velho Chico, morava uma índia chamada Iati.
Certo dia ela foi separada de seu noivo amado, um guerreiro forte e valente, que precisou partir para a guerra.
Tão numerosos eram os guerreiros em marcha que suas pisadas criaram um sulco cada vez mais profundo na terra que acabou engolindo a todos eles.
Desolada Iati chorou copiosamente até o fim de sua vida. As suas lágrimas correram para o grande sulco formando o imenso rio.
Essa lenda mexe com os sentimentos. 

E por falar em sentimentos e emoções são deles que surgem outras lendas e histórias para explicar os muitos mistérios ocultos pelas águas barrentas do rio São Francisco.

Você já ouviu falar no Caboclo D’água, por alguns conhecido como Nego D’água?
A criatura, de cabeça enorme com um único olho bem no meio da testa, à moda dos ciclopes, provoca medo e arrepios nos pescadores mais experientes.
Segundo garantem os contadores de "causos" os Caboclos D’água moram no fundo do rio. Mas não é no meio do barro não, as moradias deles são grutas de ouro puro, muito bem escondidas nos lugares mais profundos.
E até hoje ninguém se habilitou a procurar alguma dessas grutas para se enriquecer com tanto ouro.

O Caboclo D’água é só mais um dos muitos guardiões do Velho Chico.
Quando ele percebe que algum pescador está desrespeitando o Velho Chico, praticando a pesca de forma predatória, por exemplo, ele faz emborcar as canoas ou até mesmo pequenas embarcações. E muita gente já se afogou por conta desses naufrágios.
Ele também espanta os peixes e por mais que o pescador peleje não fisga nenhum. E quando é assim não adianta insistir.

Os Caboclos D’água tem lá também suas manias, como de resto temos todos nós. Apreciam fumo e pinga da boa.
Por isso os mais cautelosos quando partem para viagem ou o trabalho sempre levam esses produtos em um saquinho para, antes da pescaria, largar como oferenda sobre o rio para que afunde e lá nas profundezas acalme o espírito.
E por precaução muitos também mandam pintar o fundo do casco das embarcações como se fosse um céu estrelado.
É que o Caboclo D’Água, olhando das profundezas vê as estrelas e não se aproxima.

Tem gente que diz que é lenda, história de pescador. 
Mas pelo sim ou pelo não, melhor se precaver, não concorda?


Gostou? Leia a série sobre o Folclore do Rio São Francisco, patrocinada pelo Hotel Viva Maria.